Sigla para Environmental, Social and Governance – ou, em português, Ambiental, Social e Governança, o ESG vem sendo apontado como uma das principais tendências para 2021.
Apesar de ter ingressado, aparentemente, no radar dos investidores só nos últimos tempos, o tema está longe de ser novo, mas segue sendo um assunto desafiador às empresas brasileiras, que precisam entender que o tema não é passageiro.
Fabio Alperowitch, portfólio mananger na Fama Investimento e convidado da 4ª Money Week nesta quarta-feria (26), afirma que é preciso descontruir essa fama do ESG e mostrar que fundos europeus já praticam essas questões desde a década de 1960, e a Fama, desde 1993.
Ele explica que o motivo do movimento ainda estar lento é a transição do capitalismo, que vem de uma base hostil nos anos 1990.
“Hoje é um pouco distinto. As empresas e gestoras continuam procurando receita, resultado e margem, mas de forma responsável. Embora boa parte dos brasileiros tenha sido impactados pelo ESG recentemente, o conceito já existe há décadas. Lucrar sozinho não é sustentável, e é preciso ter uma boa relação com todos stakeholders, fornecedores, clientes, meio-ambiente e imprensa, por exemplo”, coloca.
Falta de debate
Empresas mais aderentes às filosofias do ESG no futuro provavelmente vão ganhar mais dinheiro, porque são mais perenes, mais sustentáveis e correm menos riscos.
A escolha de ativos e fundos é algo desafiador no Brasil, segundo Alperowitch, pois nos últimos 30 anos essas questões não foram debatidas, e o mercado financeiro entendeu que o assunto era ideológico, e até o repeliam.
“Criamos no mercado financeiro brasileiro um vácuo de conhecimento, onde assuntos muito densos e amplos não foram debatidos. De repente, veio a tsunami de ESG, como costumo dizer, numa necessidade de debater o tema de uma hora para a outra”, coloca o portfólia mananger da Fama, afirmando que muitos investidores tem sido bastante superficiais tratando temas super amplos.
Para ele, é necessário um tempo para o assunto ganhar força e qualidade de debate, por isso, a geração Z pode ajudar.
“Eles tem tudo a ver com os princípios ESG, como homofobia, crueldade animal, ambiental, cuidados com o próximo, sei que com o tempo resolveremos isso”, diz Aperowitch.
O cancelamento na internet
ESG significa Environmental, Social and Governance, mas atualmente o mais visível para ser o G.
Alperowitch explica que o brasileiro é mais vigilante no assunto, porém, ele não é o mais desenvolvido de fato e contém muitos problemas.
O E vem muito forte, segundo ele, por ser um tema global, principalmente nas mudanças climáticas – no Brasil -, com influências de investidores europeus.
O portfólio manager conclui que o mais esquecido na sigla acaba sendo o S, pois são temas mais regionais, e não tem muita força na pauta global.
“Como o caso de 56% da população do Brasil ser negra. Isso deveria ser uma temática muito brasileira. Temos uma desigualdade profunda no país, e não está na pauta principal de discussão na Europa, por exemplo”, pontua.
Os riscos desses debates não acontecerem com profundidade são as compras de fundos e ativos de maneira enganosa; de ter ações em uma empresa que cumpre uma parte e descumpre a outra, mas que usa o marketing ao seu favor.
“Atualmente, empresas que se mostram como não sustentáveis são canceladas de alguns portfólios, e as outras, que se mostram sustentáveis, são premiadas. Desconsiderar questões ESG na hora da compra é quase não fazer uma leitura correta das empresas”, afirma Aperowitch.
Agronegócio preocupa ESG
O agronegócio representa 20% do PIB brasileiro, e apesar de lidar com o meio-ambiente e a natureza em geral, é um perigo velado.
“Não necessariamente é verdade que o agronegócio é algo positivo para o mundo. O desmatamento preocupa bastante; o direito dos trabalhadores rurais; a segurança no trabalho; o consumo de combustível de máquinas agrícolas, além de funcionários temporários e seus direitos. Se eles não forem responsáveis, eles mesmos serão prejudicados”, explica Aperowitch concluindo que os clientes nacionais e internacionais deveriam exigir cada vez mais responsabilidade desses agricultores.
Movimentos do ESG
Fabio Alperowitch conclui a palestra da Money Week afirmando que estamos passando por três movimentos muio grandes: a transição do capitalismo, que foi citada acima; a mudança geracional, com a chegada dos jovens na indústria, e as urgências das questões climáticas, desigualdade social, gênero, racial, inclusão de pcds e etc.
“O assunto mal começou no Brasil, mas vai se fortalecer muito com o tempo a partir dessas vertentes. É muito importante, e logo, quem não seguiu ou ignorou de alguma forma essas questões sociais, de governança e de ética, estarão no nicho que a sustentabilidade ocupa hoje”, finaliza.
(Por Karin Barros)