A fabricante de motores elétricos WEG (WEGE3) está no seleto grupo das nove companhias brasileiras que valem mais de R$ 100 bilhões. Quem acreditava que as ações da multinacional brasileira já tinham atingido o ápice, se surpreendeu na pandemia. Desde o início da crise do coronavírus, os papéis se valorizaram mais de 100%. No ano acumulam alta de 88%, enquanto o Ibovespa cai 12%.
Mesmo com os altos e baixos da indústria brasileira, a companhia catarinense consegue crescer com regularidade desde 1996. Nos últimos 10 anos, sua valorização na bolsa foi de 930%, enquanto o principal índice da bolsa evoluiu 40% no mesmo período.
Um dos fatores que explicam a alta é a sua forte atuação no setor de infraestrutura. Mesmo durante crises econômicas, as oscilações desse setor não costumam ser frequentes.
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Outro motivo é a autonomia tecnológica da empresa. A Weg investe no desenvolvimento de soluções próprias. Dessa forma, ganha agilidade para desenvolver novos produtos, e isso contribui para o seu valor de mercado.
- Se você tem interesse em se tornar acionista, confira o histórico da empresa, suas estratégias de crescimento e quais fatores impactam suas ações.
O que você verá neste artigo:
Como surgiu a Weg
A Weg foi fundada em 1961 em Jaraguá do Sul, interior de Santa Catarina. As iniciais de seus 3 sócios, Werner Voigt, Eggon Silva e Geraldo Werninghaus, deram o nome à empresa.
A princípio, era uma pequena fábrica de motores elétricos. Porém, gradualmente, a empresa começou a diversificar o seu portfólio. Isso fez com que se consolidasse não só como fabricante de motores, mas como fornecedora de sistemas elétricos industriais completos.
Hoje a Weg desenvolve soluções de eficiência energética para toda a cadeira produtiva. Seus produtos e serviços abrangem, de ponta a ponta, todas as fases desse processo. Isso significa atuar da geração de energia até a automação de edifícios, passando pela transmissão, distribuição e consumo industrial.
Processo de internacionalização da Weg
Nos anos 70, a empresa deu início a sua atuação no mercado externo. A princípio, as exportações eram feitas apenas em oportunidades pontuais.
Porém a Weg percebeu que a presença no exterior trazia outras vantagens além do faturamento em si. Afinal, além de vender seus produtos, o acesso a novos mercados traria oportunidades de crescimento para a operação. Dessa forma, começou também a investir em fábricas fora do Brasil.
Atualmente, 55% da receita total da empresa vem do mercado externo. Hoje a Weg tem cerca de 20 fábricas fora do Brasil, espalhadas em onze países. Além disso, possui presença comercial em mais de 100 localidades no exterior.
Mercado de atuação
A Weg possui portfólio com mais de 10 mil produtos, distribuídos nas seguintes categorias:
- Equipamentos eletrônicos e industriais
- Fabricação de motores elétricos de baixa e média tensão, equipamentos de automação industrial e serviços de manutenção.
- Geração, transmissão e distribuição de energia
- Geradores elétricos para usinas hidráulicas, térmicas, turbinas hidráulicas, aerogeradores, transformadores, subestações de painéis de controle e serviços de integração de sistemas.
- Motores para uso doméstico
- Motores para bens de consumo durável, como máquinas de lavar e ar condicionado.
- Tintas e vernizes
- Tintas líquidas e em pó e vernizes eletro-isolantes, com foco em aplicações industriais.
Veja quanto representa cada grupo no faturamento total da companhia:
A fim de aumentar a sua participação no mercado, a Weg entrou na indústria 4.0. Recentemente a empresa anunciou uma série de aquisições, sendo as últimas focadas em telemetria de motores e monitoramento de chão de fábrica.
Ainda não foram divulgados os números desse novo nicho. Entretanto, a Weg aposta na inteligência artificial como mais um pilar de crescimento para suas atividades.
Diferenciais da WEG
No caso da Weg, alguns diferenciais fazem com que a empresa se destaque no mercado:
Verticalização
A Weg produz quase todos os componentes de seus produtos internamente. Logo, isso permite maior controle dos processos, o que garante segurança e eficiência de custos.
Além disso, o desenvolvimento de tecnologia própria contribui para a geração de novas oportunidades de crescimento. Isso porque, nos últimos 10 anos, mais da metade da receita da empresa veio de novos produtos.
Atuação em segmentos estáveis
Vimos que a Weg possui boa parte de sua receita (atualmente 35%) focada na infraestrutura de energia. Isso porque o longo ciclo desses projetos proporciona receitas constantes e estáveis. Ou seja, uma vez que contrate a Weg, o cliente ficará bastante tempo vinculado aos seus serviços.
Exposição a tendências seculares
Por fim, destacamos a atuação da empresa em segmentos de tendências seculares. Inteligência artificial, energia limpa e armazenamento de energia são alguns exemplos de nichos da Weg.
Dividendos
Resultados de 2020
Até junho deste ano, a receita líquida da WEG cresceu 24% em relação ao mesmo período de 2019, atingindo R$ 4,06 bilhões. Por outro lado, o lucro líquido foi de R$ 514,4 milhões, um aumento de 32% comparado ao ano passado.
A redução de custos e despesas contribuiu para a melhora do resultado. Desde o início da pandemia, a empresa racionalizou alguns processos, promovendo cortes de despesas e redução de jornadas de trabalho.
Além disso, a valorização do dólar também colaborou para o bom desempenho do semestre. Como vimos, a Weg tem 55% de suas receitas no mercado externo. Porém, parte de seus custos de produção também são dolarizados.
Entretanto, no primeiro semestre, o reflexo cambial foi sentido pela empresa somente nas vendas. Isso porque grande parte da matéria-prima ainda carregava o custo do dólar mais baixo. Dessa forma, a empresa acabou ganhando ao computar receitas ao dólar atual e custos referentes à época em que a cotação da moeda estava mais baixa.
Recomendações do mercado
Os fortes números divulgados no encerramento do semestre fizeram com que o JPMorgan elevasse a recomendação dos ativos WEGE3 de neutra para overweight (exposição acima da média do mercado).
“A resiliência do mercado e a execução de primeira linha, na nossa visão, continuarão a justificar os múltiplos elevados de 50 vezes P/E [valor de mercado dividido pelo lucro] na estimativa para 2021”, explicam os analistas.
Outro motivo citado pelos analistas para o otimismo em relação à empresa é a sua capacidade de encontrar novos alternativas para crescimento. Isso ficou claro depois das recentes aquisições e dos investimentos na indústria 4.0.
Em julho, o BTG Pactual avaliou a ação da empresa como ‘neutra’ devido à sua forte valorização. O índice Preço Lucro (P/E ratio ou P/L) da companhia era de 27,5 vezes no fim de 2018. Já no final do ano passado, chegou a 45,3 vezes.
O BTG prevê que o indicador atinja 75,6 vezes no final deste ano, e depois comece a recuar, chegando a 59,9 vezes no final de 2022.
Mesmo sendo uma ação cara, a Weg segue agradando aos investidores. Isso porque ela está no rol das empresas de crescimento, ou ações de crescimento.
São companhias com múltiplos muito elevados mas com resultados consistentes e que darão lucros futuros igualmente consistentes.
Ou seja, o papel está caro mas pode remunerar bem o acionista no futuro. Outro ponto a favor da companhia é a política de pagamento de dividendos.
O que mexe com as ações da Weg
A WEG é vista no mercado como uma empresa praticamente única. Principalmente porque uma série de fatores faz com que a companhia consiga se proteger de solavancos muito fortes na economia ou no cãmbio. No entanto, ela não está completamente blindada. Confira o que pode mexer com as ações da multinacional:
- Preço de commodities: parte dos produtos produzidos pela empresa são compostos por cobre e chapas de aço, commodities cujos preços variam de acordo com a demanda global. Se houver um aumento brusco de preços, a companhia pode ter dificuldade de repassar os custos aos clientes
- Economia interna: cerca de 40% da receita da Weg ainda vem do mercado interno. Portanto, uma parte considerável de seus resultados depende do ambiente para consumo e investimentos no País.
- Variação cambial: como mais da metade da receita vem da operação internacional, uma variação cambial pode interferir no resultado com exportações e pressionar a margem operacional