O mercado de ações tem sido muito falado recentemente devido à baixa taxa de juros, atualmente em 2% ao ano. Com os juros baixos, mais investidores passaram a comprar ações. Mas você sabe como funciona o mercado de ações e qual a sua história?
Ações, economia, política e investimentos
Começando por uma definição formal (e tradicional), uma ação é a menor parcela da capital social de uma empresa.
É como se a empresa fosse dividida em vários pedaços. Então, cada pedaço correspondesse a uma participação nesta empresa. Ao comprar este pequeno pedaço, você passa a ser um dos seus sócios.
Através de uma ação você tem direito a um ‘pedaço’ do terreno, dos automóveis, do prédio, uma parte de tudo que ela possui. Ou seja, uma fração de todos os ativos da empresa.
Por isso mesmo, se você tem ações você é sócio/dono desta empresa.
Além de ser dono, ou seja, sócio desta empresa, comprando ações você passa a ter direito a uma parcela dos lucros. Quanto maior a sua parcela da sociedade maior será a sua parte na divisão dos lucros, chamados de dividendos.
Administração do negócio
Apesar de ser dono, normalmente você não participa da administração dos negócios. Sua figura será a de um investidor que acredita no crescimento da empresa e na sua capacidade de gerar lucros.
Independentemente de fazer parte ou não da gestão da empresa, você corre todos os riscos do negócio. Ou seja, você participa da alegria quando a empresa crescer e se valorizar. Mas também estará ali na tristeza, pois a empresa pode ter prejuízos e valer cada vez menos.
Sendo eu sócio, se a empresa tiver prejuízos eu terei que pagar?
Não, você não precisa pagar e o máximo que pode acontecer é a sua ação desvalorizar. No pior dos casos, se a empresa decretar falência, suas ações não valerão mais nada.
Diferenças entre entre Sociedades Limitadas (Ltda) e Sociedades Anônimas (SA)
A afirmação de que prejuízos não afetam os proprietários das ações causa estranheza. Mas isso acontece porque a maior parte das empresas que conhecemos serem do tipo “Ltda”. Já as ações negociadas na Bolsa são de empresas “SA”.
Em uma Sociedade Limitada, cada sócio é responsável por suas cotas proporcionalmente ao montante do capital social da empresa.
Geralmente participam diretamente da administração dela e possuem cargos executivos importantes.
Elas são regulamentadas pelo Código Civil Brasileiro e têm como característica principal a proximidade entre os sócios e seus funcionários, em um contato diário e intenso. Ou seja, os contatos são mais “pessoais”.
Já no caso da Sociedade Anônima, o capital é dividido em ações e a responsabilidade dos acionistas está limitada ao preço de emissão dessas ações, sendo que estas empresas podem ser de capital aberto ou fechado.
No regime de capital fechado, ela faz parte de um seleto grupo de sócios, com liberdade de elaborarem seu estatuto social.
No caso de capital aberto, a coisa fica mais complexa.
Essa empresa, quando abre seu capital ao público, tem as ações sendo negociadas no mercado de capitais através do mercado de balcão ou em uma Bolsa de Valores.
Ações da Bolsas de Valores
Bolsas de Valores são sociedades civis, com ou sem fim lucrativos, que mantém um local adequado e seguro para a realização de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários (ações, índices de ações, fundos imobiliários, etc).
No Brasil, a única Bolsa onde se negocia ações é a B3, antiga BM&FBovespa.
Quando você pensa em uma Bolsa de Valores, logo pensa naquele ambiente onde as ações eram compradas e vendidas “no grito”. Porém, a situação mudou e hoje em dia ele é totalmente eletrônico.
Afinal, atualmente a Bolsa fornece um sistema de negociações totalmente eletrônico com alto padrão de segurança, ética e transparência.
São divulgadas pública, detalhadamente e com muita rapidez todas as transações de compra e venda desses títulos e valores mobiliários.
É também dever da Bolsa de Valores fiscalizar a integridade das operações. Além disso, deve acompanhar e intervir quando há uma oscilação muito brusca (positiva ou negativa) sobre um determinado ativo ou índice.
Como as ações são lançadas na Bolsa de Valores?
Primeiro, é interessante entender porque as ações são lançadas na Bolsa de Valores.
Se você é uma empresa, de uma maneira geral tem duas possibilidades de financiar o seu crescimento:
- Tomar empréstimo – com Bancos, Governo (BNDES) ou por Debêntures;
- Encontrar sócios – vendendo ações na Bolsa.
A primeira opção tem como desvantagem o fato de que você vai pagar juros. Na segunda, não existem juros já que o dinheiro veio da venda da sociedade e não precisa ser devolvido.
A vantagem da primeira opção (empréstimo) é que os lucros em caso de tudo dar certo serão somente seus. Já na segunda (lançamento de ações), você deve dividir os lucros.
Quando uma empresa decide “lançar as suas ações” ou “abrir o seu capital”, recorre a corretoras e bancos especializados. Dessa forma, este especialistas fazem uma avaliação da empresa e calculam o valor do seu capital. Também é tarefa deles definir qual percentual será vendido no lançamento das ações ao mercado.
IPOs de ações
O processo de lançar ações na Bolsa é chamado de IPO, do inglês “Inicial Public Offering”.
- Confira a lista de empresas que querem fazer IPO na Bolsa
Esse processo se dá com um leilão na Bolsa de Valores, com data e hora de início marcadas com antecedência. Nele, as corretoras colocam suas ofertas de compra. Assim, o preço do IPO vai sendo definido.
Muitas vezes o preço sai acima do preço calculado pelas corretoras e bancos, o que é um excelente sinal para a empresa. Significa que o número de interessados por suas ações é maior do que o previsto. Por uma simples lei de oferta e procura, o preço do lançamento sobe.
Definidas as quantidades e o preço que cada investidor levou no leilão inicial e o preço do IPO, é marcada a data de estreia dessas ações.
Este primeiro negócio realizado entre a empresa diretamente ao comprador é chamado de Mercado Primário.
A partir do lançamento através da IPO, as ações são livres para serem negociadas. Ou seja, as ações podem ser compradas ou vendidas por qualquer investidor. Portanto, este é o Mercado Secundário.
Para participar, basta o investidor estar cadastrado em uma corretora de valores.
A partir do lançamento, estas empresas serão auditadas regularmente, apresentarão balancetes trimestrais e balanços anuais. Além disso, as negociações com ações serão auditadas pela CVM.
O que é a CVM?
A CVM é o Órgão Governamental que regulamenta o Mercado de Capitais no Brasil criado para fiscalizar e desenvolver o mercado de capitais no Brasil.
Para entender mais sobre o que faz a CVM, sua área de atuação e a sua estrutura, acesse o site da CVM ou o material explicativo sobre a função da CVM.
Tipos de Ações e Códigos
Agora que já sabemos o que são ações, como são lançadas e onde são negociadas, vamos aprender sobre os tipos de ações e como são formados seus códigos.
Apesar de serem informações básicas, elas são muito importantes para montar estratégias de investimentos em ações.
Ações ON
As ações ordinárias são o tipo de ações mais importante, já que elas dão direito ao controle da empresa. Elas dão direito de voto nas assembleias de acionistas. Já quem tiver 50% mais uma ação, ou o grupo que as tiver, tem o poder de controlar a empresa.
Além disso, as ações ordinárias tem outra vantagem, o tag along.
Em resumo, o tag along é o direito de receber a mesma quantia que os controladores da empresa em caso da venda para outra empresa.
Um bom exemplo foi o caso da compra do Unibanco pelo Itaú, ou a compra da Sadia pela Perdigão.
Vamos a um exemplo fictício: imagine que as ações da Sadia estivessem cotadas R$ 20.
Em troca de comprar um grande lote que dava direito ao controle da empresa, a Perdigão resolveu pagar mais caro, por exemplo R$ 22.
Neste caso, os detentores de ações ordinárias também teriam o mesmo direito de vender por R$ 22.
O tag along é descrito por um percentual (100%, 90%, etc). Por lei, esse percentual é de no mínimo, 80% do prêmio, dependendo do nível de governança da empresa.
Na maioria dos mercados mundiais esse é o único tipo de ação negociada em Bolsa.
Por isso no Brasil, as empresas que abrem capital atualmente emitem somente ações ordinárias.
Ações PN
As ações preferenciais não dão o direito ao voto nas assembleias. Por outro lado, têm a preferência no recebimento de dividendos e muitas vezes um pouco mais de dividendos, que são parte do lucro líquido da empresa distribuído para os acionistas.
Para se ter uma noção deste privilégio, se uma empresa não pagar dividendos por três anos consecutivos, os preferencialistas terão direito a voto nas assembleias.
Elas são muito típicas do mercado brasileiro porque foi a maneira do governo poder vender parte de suas companhias públicas. Conseguiram captar dinheiro, mas sem ter interferência na gestão das empresas. Por isso, são as mais negociadas nos pregões.
Na legislação atual, a empresa só pode emitir ações PN na mesma proporção das ON, uma para cada uma.
Para as empresas é ótimo poder emitir ações PN porque elas captam os recursos e jamais correm o risco de perda do controle acionário.
As ações PN geralmente são mais baratas do que as ON. Por isso, também são as preferidas dos investidores de curto prazo.
Códigos das Ações
Para que sejam negociadas na Bolsa de Valores, as ações das empresas são identificadas por códigos. Os códigos possuem quatro letras maiúsculas que representam o nome das companhias. Exemplos: PETR é de Petrobras, VALE é de Vale, ITUB é de Itaú Unibanco, BBDC é de Bradesco, etc.
Depois dessas quatro letras, vem um número que representa qual o tipo de ação negociada:
- 3 – Ordinária (ex: BVMF3)
- 4 – Preferencial (ex: PETR4)
- 5 – Preferencial classe A (ex: VALE5)
- 6 – Preferencial classe B (ex: ELET6)
- 11 – Units e ETFs (ex: BOVA11)
Por exemplo, BOVA11 é um ETF, ETF é um fundo que neste caso representa o índice Bovespa ou Ibovespa (IBOV).
O Ibovespa é carteira teórica formada por várias ações, de vários segmentos econômicos diferentes na economia. Em resumo, represente as ações mais negociadas no Brasil.
Ele é importante porque nos dá uma ideia de uma maneira geral se as ações estão subindo ou caindo. Portanto, passa ao investidor uma noção da movimentação das ações no Brasil.
O ETF BOVA11 é interessante porque em vez de comprar um pouco de cada ação que compõe o índice (60 ações), você compra o BOVA11 ficando mais fácil a sua participação na valorização de todas as ações proporcionalmente ao seu percentual de participação no Ibovespa.
Se você quer saber mais sobre a metodologia de composição do índice acesse o link.
História das Bolsas de Valores no Brasil e no Mundo
Os livros de história não são muito precisos nas datas. Mas o primeiro registro de reuniões para negociações organizadas foi próximo de 1150, quando o rei Luis VII criou a Bourse de Paris.
Na época de Napoleão, os negócios foram transferidos para um prédio chamado de Corbeille, nome usado também na Bolsa do Rio de Janeiro. Lá era o local onde eram registradas as negociações feitas pelos corretores.
Em 1630 aproximadamente, foi inaugurada a Bolsa de Valores de Amsterdã para se negociar as ações das Companhias das Índias Orientais, que tiveram um papel fundamental na expansão do comércio no mundo daquela época.
Os primeiros relatos de “dividendos” foram em 1650. Nessa época, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais começou a pagar remuneração aos acionistas.
Esse movimento se espalhou pela Europa e em 1801, foi fundada a Bolsa de Valores de Londres. No logotipo, estava escrito “Dictum Meum Pactum”, que simboliza a forma de se negociar nos pregões: minha palavra é meu contrato.
Um negócio era considerado fechado quando o comprador e o vendedor tocavam sua mão no peito do outro e dizia “fechado X ações ao preço Y”.
Suas anotações eram então passadas aos seus auxiliares e estes levavam um papel preenchido com o nome da corretora que comprou e a que vendeu, a quantidade e o preço fechado/acordado por aquela ação. Essa negociação era registrada pelos funcionários da Bolsa na Corbeille.
Hoje em dia, a Bolsa que é referencia mundial é a Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). Ela teve sua origem em 1792 no número 40 da Wall Street. Porém, seu primeiro prédio foi destruído em um grande incêndio em 1835.
Só em 1863, ela registrou o nome que carrega até hoje: New York Stock Exchange.
Crise de 29
O fato mais marcante na história da Bolsa Americana se deu em 24 de outubro de 1929, quando houve a “quinta-feira negra”. Foi um dia trágico marcante na história dos Estados Unidos, com o primeiro “crash” (quebra) na Bolsa de Valores americana, a famosa crise de 29.
Esse “crash” foi o início do período da chamada “Grande Depressão”, em que os valores das ações caíram muito. Algumas empresas fecharam e muitas pessoas foram demitidas. Além disso, a produção americana diminuiu pela metade.
Mas porque as ações caíram?
Na época, uma onda especulativa e de otimismo levou a população a acreditar que o preços das ações iriam somente subir. Então, as corretoras começaram a emprestar dinheiro para os pequenos e médios investidores comprarem mais ações.
No auge desse movimento, já haviam sido emprestados quase metade de todo dinheiro em circulação nos Estados Unidos!
Quando começaram a perceber a bolha que havia se formado, todos tentaram vender suas ações. Como só haviam vendedores os preços viraram um mero detalhe, uma vez que o importante mesmo era achar alguém para comprar.
Após esse doloroso aprendizado, o governo americano desenvolveu uma série de leis e normas para que isso nunca mais voltasse a acontecer.
Desde esse dia trágico, as bolsas do mundo todo começaram a criar mecanismos de interrupção dos pregões em casos de pânico extremo, os chamados “circuit breaker”.
As Bolsas de Valores no Brasil
No Brasil, uma das bolsas de valores mais importantes foi criada em 1820: a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ). No início, negociava câmbio, escravos e mercadorias da época.
Em 1845, foi inaugurado o prédio na Rua Direita, próximo ao porto, lugar aonde está até os dias de hoje.
Devemos lembrar que o Rio de Janeiro era o centro do país. Por isso, a BVRJ se tornou a Bolsa brasileira mais importante e com o maior volume negociado de dinheiro e ações.
No século XX, A BVRJ foi aos poucos perdendo espaço para a Bovespa (em São Paulo) com o primeiro “crash” nacional de 1971, o chamado “milagre brasileiro”, que deveria transformar o Brasil em uma grande potência econômica mundial.
O que a equipe econômica da época, liderada por Delfim Neto, não contou é que o milagre seria feito à base de empréstimos contraídos no exterior com um custo altíssimo caso as coisas não dessem certo como previsto.
Mais uma vez o que se viu foi uma bolha especulativa que fatalmente estourou.
Mas o que sepultou de vez a BVRJ no cenário nacional foi o escândalo de 1989, o chamado Caso Naji Nahas.
Naji Nahas e o fim da Bolsa do Rio
Figura mítica no mercado carioca, este libanês dominou a BVRJ desde o inicio dos anos 80. Atuava com operações complexas e agressivas de compra de ações e opções.
Com sua fama de ganhador, adquiriu vários “sócios“ que seguiam suas tendências e transformavam suas compras em um efeito manada. Mas ele se utilizava de uma brecha operacional na época para alavancar seus negócios muito mais vezes do que o capital que possuía. Ao comprar um papel na bolsa, você só pagava 5 dias depois.
Então, ele comprava enormes quantidades de ações sem ter o dinheiro todo e seus “sócios” o seguiam.
Este grande volume de compras fazia com que as ações subissem artificialmente.
Neste intervalo de 5 dias, Naji ia aos bancos pedir dinheiro emprestado para pagar as compras levando junto sua posição em ações (já valorizadas) como garantia, provando aos banqueiros que ele estava no lucro.
Isto fazia com que os bancos concluíssem que a operação de empréstimo de curto prazo era de baixíssimo risco.
Como ele usava uma extensa rede de “laranjas”, conseguia sempre manipular os preços de fechamento das ações, o que era vital para que os empréstimos continuassem a fluir.
Em seu auge, Naji Nahas conseguiu ser dono de 10% das ações da Petrobrás e de 5,5% da Vale, a ação mais negociada na BVRJ.
Com a alta dos juros, o medo das eleições presidenciais e a intervenção junto aos bancos do então presidente da Bovespa, seu esquema começou a falhar.
Ele deixou um prejuízo nas corretoras calculados na época em mais de US$ 200 milhões.
Esse foi um golpe fatal na confiança do investidor no sistema da BVRJ, o que fez com que o mercado se voltasse para a Bovespa.
B3, a Bolsa do Brasil
No começo dos anos 2000, foram feitos acordos de integração entre as bolsas. Finalmente tudo foi transferido para Bovespa, hoje o único centro de negociações com ações do Brasil.
Em 2005, o tradicional “pregão viva-voz”, onde as ações eram negociadas “no grito” chegou ao fim na Bovespa. Já em 2009, chegou ao fim na BMF.
Ambos os espaços hoje servem apenas como museu para contar a história de como um dia funcionavam as Bolsas.
Em 8 de maio de 2008, a Bovespa se juntou com a BMF e formaram a BM&F BOVESPA S/A, a maior bolsa de valores da América Latina e uma das maiores do mundo em valor de mercado.
E finalmente, em 2017 a BM&F Bovespa se juntou à CETIP – Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos – , formando a B3 – Brasil, Bolsa e Balcão.