A onda de IPOs (Ofertas Públicas Iniciais) de 2020 está levando para a bolsa brasileira empresas de segmentos que não tinham tradição no nosso mercado de capitais. O brechó on-line Enjoei (ENJU3) é uma delas. A startup quer fazer sua estreia em grande estilo, levantando mais de R$ 1,1 bilhão com o IPO.
A fixação de preço está marcada para 5 de novembro e a estreia na B3 para o dia seguinte.
Se nos Estados Unidos as startups são recorrentes na Nasdaq, por aqui são raridade. O blog que virou site e depois uma plataforma de e-commerce se juntará a outras startups brasileiras que querem aproveitar a barca dos IPOs de 2020, como Wine, Méliuz e Housi.
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Neste artigo vamos contar a história do Enjoei, seus projetos de expansão, detalhes do IPO e os números da empresa.
O que você verá neste artigo:
O que é o Enjoei
Em 2009, o casal carioca Ana Luiza McLaren e Tiê Lima queria começar a vender roupas e acessórios usados próprios e de amigos na internet. O formato de brechó virtual começou como um blog descontraído em São Paulo, com linguagem bem humorada. Assim, em questão de meses o blog virou site e o site virou negócio.
O casal uniu sua expertise no mundo digital (Ana é publicitária e era gerente de vendas do Google e Tiê trabalhava com projetos digitais) para fazer daquela ideia uma empresa sólida.

Ana e Tiê, os fundadores da Enjoei / Foto: Divulgação
Ano a ano as vendas foram aumentando e, em 2012, o Enjoei virou um marketplace. Ali, cada pessoa poderia criar seu perfil, vender seus artigos pessoais e lucrar com a venda dos itens.
Em 2013, o negócio recebeu um aporte do fundo brasileiro Monashees e em 2014 do americano Bessemer Venture Partners. Em 2017, lançou uma versão do negócio na Argentina, o Ya Fué.
Ao longo de uma década o negócio amadureceu, consolidou-se, e hoje agrega também móveis, artigos para casa, entre outros itens. Assim, hoje o Enjoei se apresenta como uma “plataforma que conecta pessoas e produtos de moda e lifestyle” visando “estabelecer um novo hábito de comportamento e consumo”.
Assim, com um negócio focado 100% no on-line, os usuários usam a plataforma da Enjoei como uma verdadeira loja para vender seus pertences, com soluções de oferta, entrega e pagamento.
Alguns números da empresa:
- 23 milhões de visitas por mês nos últimos 12 meses (até 30 de junho);
- O site tem 1,9 milhão de vendedores e mais de 1,5 milhão de compradores desde o lançamento;
- Já foram cadastrados mais de 30 milhões de produtos, com mais de 85 mil marcas;
- Só no mês de junho de 2020 cerca de 350 mil itens foram colocados à venda na plataforma por semana.
Modelo de negócio do Enjoei
O modelo de negócios do Enjoei se dá pela intermediação das vendas que ocorrem através da plataforma. Mas há ainda outros serviços correlatos à intermediação.
A comissão da plataforma cobre os serviços de intermediação, meios de pagamento, segurança e demais custos da plataforma. Assim, a cada transação realizada, o Enjoei cobra dos vendedores uma tarifa fixa (de R$1,90 a R$ 13 por faixa de valor de produto até R$ 1.500, e grátis para produtos com valor superior a R$ 1.500) e uma comissão dos vendedores de: 18,5% para produtos com valor inferior ou igual a R$ 100; ou 20% para produtos com valor superior a R$ 100.
Mas há outros serviços como o enjuPRO. Ele só é oferecido em São Paulo, e tem como benefício o próprio Enjoei coletar os itens (com taxas extras).
Outras receitas e serviços incluem: serviço de prevenção a fraudes, coparticipação no frete, envio protegido e enjuBank (carteira digital).
Números do Enjoei
Como muitas outras startups que acessaram o mercado de capitais lá fora, a Enjoei vai abrir o capital sem dar lucro. No ano passado, a empresa acumulou prejuízo líquido de R$ 20,7 milhões. Em 2018, as perdas somaram R$ 20,1 milhões e, em 2017, R$ 12,8 milhões.
A receita líquida atingiu R$ 53,6 milhões em 2019. Em 2018 este indicador foi de R$ 38,9 milhões e de R$ 33,5 milhões em 2017.
Os principais acionistas hoje são: Bessemer (18,19%), Monashees (15,44%), Aram (12,12%), Ana Luiza McLaren (11,64%), Estoril (9,20%) e Tiê Lima (8,80%). Mas após a oferta, Ana Luiza passará a deter a maior parte da empresa.
Sobre o IPO do Enjoei
O Enjoei já definiu código (ENJU3) e o intervalo de preços por ação. Com faixa indicativa entre R$ 10,25 e R$ 13,75, a empresa pode captar até R$ 1,155 bilhão com o IPO na faixa média. Se os lotes adicionais forem colocados, o IPO pode levantar até R$ 1,55 bilhão – considerando o topo da faixa indicativa.
O preço final estava previsto para ser definido 27 de outubro, com início das negociações na B3 no dia 29. Mas nesta semana, a companhia mudou as datas, para 5 e 6 de novembro respectivamente.
A empresa será listada no Novo Mercado, o mais alto índice de governança corporativa da bolsa. A distribuição pública será primária e secundária.
A empresa e seus investidores, que incluem a gestora Monashees, vão vender 96.265.123 de ações no IPO. Mas esse montante pode subir para 129.957.916, dependendo da venda de lotes extras de papéis.
A abertura será coordenada pelos bancos BTG Pactual (BPAC11), Bradesco BBI, J.P. Morgan, XP Investimentos e UBS.
Por fim, os principais acionistas vendedores são os fundos Monashees, Bressemer e Aram.
Estratégias de crescimento
Os recursos da oferta serão destinados a: expansão da marca e base de usuários (30%), soluções fintech (25%), expansão do time para desenvolvimento de produto (25%) e investimento em políticas comerciais (20%).
O Enjoei tem como prioridade a expansão da base de clientes. Mas para expandir com eficiência e em alta escala, a empresa diz que tem se preparado ao longo dos últimos anos para que o modelo de retenção funcione de maneira sólida.
Outro ponto é que, para ampliar e sustentar a eficiência de crescimento, é necessário que o Enjoei tenha cada vez mais sortimentos para acelerar a recorrência e a frequência dos usuários.
Para expandir o alcance do Enjoei a empresa quer aumentar o modelo de trade-in (troca de roupas usadas por descontos em lojas), expandir a atuação do enjuPRO (hoje está só em SP, mas a empresa quer expandir nacionalmente), expandir a participação de categorias (ter mais moda infantil e masculina e também itens de casa e decoração) e expandir o modelo de negócios (a proposta é ser B2B2C, vendendo itens não utilizados por marcas que fazem parceria, permitindo que tais marcas vendam novas coleções, coleções passadas e itens em oferta).
Por fim, estão nos planos do Enjoei ampliar os serviços logísticos e investir em tecnologia artificial.