A Bolsa norte-americana teve sua melhor performance desde 1974 nesta semana, mostrando que o mercado financeiro foi alvejado pela crise do coronavírus, mas não abatido.
A informação é do economista Bernard Tamler, analista da Gap Asset Management, gestora que investe, preferencialmente, em fundos multimercados, incluindo a NYSE.
“Uma parcela da carteira tem que estar investida fora do Brasil. A diversificação diminui a volatilidade”, disse. A Gap tem exposição comprada lá contra a Bolsa brasileira.
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Esse mix de produtos fez a gestora passar pela crise segurando em 10%, montante significativo ao comparar com outras empresas que tiveram quedas mais acentuadas.
“O setor tecnológico da Bolsa americana tem performado muito bem”, frisou, citando a Nasdaq e lembrando que pessoas físicas no Brasil podem investir lá por meio dos BDRs.
Brazilian Depositary Receipt são certificados de depósitos de valores mobiliários emitidos no Brasil e que representam outro valor mobiliário emitido por companhias abertas, ou assemelhadas, com sede no exterior.
“Hoje, nossa maior posição é aplicada em pré-fixados. Em termos de investimento, a gente tá na parte curta da curva”, disse, em referência ao gráfico de Fibonacci.
A retração de Fibonacci é composta por linhas horizontais que cortam a série de preços. A distância entre linhas varia obedecendo a chamada série numérica de Fibonacci. Na análise técnica, estes valores são expressos em porcentagem: 100%, 61,8%, 38,2%, 23,6% e 0%.
Tamler conversou por videoconferência com Luis Fernando Moran, sócio na EQI Investimentos, na tarde desta quinta-feira (9).
O que você verá neste artigo:
Desde sempre
O economista disse ter preferência por ouro como investimento seguro. “Tem tido bastante retorno em meio à crise. Acho que é um ativo que vai muito bem quando as taxas de juros estão muito baixas”, disse.
E acrescentou: “o papel moeda é uma coisa recente, existe há 100 anos, enquanto o ouro está aí desde sempre, inclusive sendo boa alternativa ao dólar.”
Porém, ao observar o cenário macroeconômico para os dias à frente, ele lembra que todo esforço dos EUA para segurar o tranco, injetando trilhões de dólares na economia, resultou no maior déficit fiscal recente, comparável apenas a 1945, ano da II Guerra Mundial.
“A Bolsa brasileira também voltou para o menor nível histórico”, frisou, complementando que há muitas incertezas no ar.
“Quem nos garante que não ocorrerá outra onda do coronavírus, ou que o lockdown não vá ser tão profundo assim”, questionou.
Isso porque dos dez piores dias do Bovespa, nove estão em 2020. Entretanto, conforme Tamler, não é hora de entrar em desespero. “Períodos de crise costumam trazer boas oportunidades”, declarou.
Fundos multi
A expectativa positiva quanto às operações financeiras do economista estão concentradas nos fundos multimercados. E o investimento nessa modalidade é relativamente simples.
“Quando a Bolsa sobe, quase sempre ele vai pior, mas na crise vai melhor”, ilustrou, em referência à performance dos multimercados em cenários turbulentos.
Olhando para o mercado interno, ele disse que a posição que a Gap carrega há semanas se concentra em Vale. “A mineradora não tem dívida elevada”, indicou.
E disse mais: “outro setor que a gente gosta, principalmente pelo Valuation, é o bancário. O Bradesco está sendo negociando a uma vez o valor patrimonial, e o Banco do Brasil a 0,6% do valor patrimonial.”
Ocorre que, conforme Tamler, os bancos no Brasil têm histórico de sobrevivência muito grande, bom balanço e caixa líquido.
“Já o setor doméstico é mais delicado. A gente chegou a ter ações”, disse, indicando um rebalanceaento de carteira.
A Gap também observa com atenção e interesse o segmento elétrico. “Principalmente pela taxa de retorno real”, frisou.
“É nos momentos de crise que se vê que algumas coisas são fundamentais, como a diversificação de portfólio, por exemplo.”
Pós-crise
Para Tamler, o governo brasileiro deve promover a reforma tributária e administrativa urgentemente no pós-crise. “Essas medidas são fundamentais para que se possa retomar o crescimento.”
E acrescentou: “nesse momento, é importante que a política fiscal entre com renda mínima, mas isso não pode se tornar permanente. Do jeito que está hoje, é certo que a dívida externa aumente”, disse.
Estratégia da gestora
Principal produto da gestora, o Gap Absoluto teve desempenho bom por sua capacidade de reação frente à crise.
Conforme Tamler, enquanto o vírus se concentrava na Ásia, a gestora mantinha posição. Tão logo o Covid-19 chegou à Europa, a Gap rapidamente diminuiu sua marcação na Bolsa.
Isso porque o PIB da Europa é até maior que dos EUA. “Começamos a comprar bastante dólar e mantivemos nossa posição comprada na moeda norte-americana”, frisou.
Segundo o economista, boa parte do ajuste foi feito no carnaval, visto que a Bolsa brasileira estava fechada, enquanto a norte-americana operava.
“Percebemos em tempo que a crise era bem mais aguda e em março já estávamos 10% positivos. Esse trimestre foi muito desafiador”, declarou.
E concluiu: “na crise, você deve ter muita cautela com alavancagem. Diversificação é o ultimo almoço grátis, mesmo retorno com volatilidade menor.”
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