Com experiência de mais de dois séculos, a gestora de ativos britânica Schroders sabe como poucas que o investimento em ações não deve ser considerado como estratégia de curto prazo e que, em momento de volatilidade, é que se abrem as oportunidades.
“Se você estiver pensando em renda variável, o horizonte deve ser de dois ou três anos”, avaliou Daniel Celano, CEO da Schroders no Brasil, em entrevista exclusiva ao site EuQueroInvestir.com.
Mais do que a visão de médio ou longo prazo, outro ensinamento da centenária gestora é o de saber o momento certo de montar ou desmontar posições.
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“Os custos de oportunidade podem surgir e, se você ficar pensando demais, o negócio já pode ter andado”, disse, ressaltando que a gestora está aproveitando o momento de baixa dos mercados para fazer uma recomposição do seu portfólio.
O que você verá neste artigo:
Concorrência
Sobre a bolsa brasileira, ele ressaltou que a Schroders administra US$ 4 bilhões em renda variável no Brasil – o que a coloca como a quinta maior gestora do país.
“Acreditamos na B3, no seu potencial construtivo, mas ela representa apenas 1% do volume total das bolsas no mundo”, comentou.
A Schroders administra US$ 650 bilhões nos seus escritórios espalhados por 32 países.
Diante deste cenário, é inegável a intensa concorrência global que a B3 sofre.
“O mundo está ficando muito complexo e os gestores têm inúmeras alternativas de investimento”, ressaltou, pontuando que a bolsa brasileira acaba sendo movida pelos preços das matérias-primas no mercado internacional. “Se a bolsa vai chegar aos 100 mil ou 150 mil, vai depender do ciclo das commodities.”
Adicionalmente, Celano reforçou que a bolsa brasileira melhorou muito, nos últimos anos, mas que ainda carrega certas peculiaridades.
“O Brasil é cheio de incertezas, mesmo assim é o mais atrativo entre seus pares latino-americanos”, frisou.
Reforma
Em meio a tudo isso, ele elogiou a aprovação da reforma da Previdência, a qual classificou como muito oportuna.
“Ela [a reforma] resolveu o problema de solvência e, consequentemente, melhorou a credibilidade [do país]”, disse.
Entretanto, acrescentou, o país ainda precisa avançar em outros pontos estratégicos, como o fiscal, o orçamento do executivo e a melhoria do ambiente de negócios.
Juros
Com o movimento global de redução dos juros, liderado pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, o investidor se vê obrigado a migrar da renda fixa para a variável, em busca de ativos mais rentáveis.
Segundo ele, essa migração é um movimento global, não só no Brasil, onde a Selic se encontra atualmente em 4,25% – seu menor patamar histórico.
“Isso obriga os investidores a fazer uma avaliação mais criteriosa a respeito do risco-retorno dos ativos variáveis. É preciso trabalhar com estratégia, paciência e uma carteira diversificada”, contou.
Sobre o surto do coronavírus, que vem abalando os mercados acionários globais, Celano diz acreditar que há muita especulação. “Precisamos checar o quanto isso afeta o mercado real, pois, as medidas para conter o avanço do vírus são bastante efetivas”, disse.
Conforme ele, o Covid-19 deve, sim, impactar alguns segmentos, como produção, consumo, viagem e gastos.
“Isso acarretará prejuízos, pois o preço dos ativos irá refletir [na economia], mas confiamos que a propagação do vírus possa arrefecer entre março e abril”, afirmou, avaliando que, caso isso ocorra, seu impacto negativo nos mercados diminuam.
(Com Rodrigo Petry)